"Desde que deixara a companhia de padre Antônio,tudo lhe correra às mil maravilhas, como se Nossa Senhora do Carmo o quisesse compensar amplamente dos dissabores sofridos. A hospitalidade do Guilherme fora franca e de boa vontade, e a tia Teresa, apesar daquela tolice insulsa com que lhe assinalara a belida, esmerara-se em obséquios e atenções que iam direito ao coração faminto do sacristão de Silves. Todavia a demora no sítio do pescador fora muito longa. O Guilherme tinha de levar ao Ramos uma boa partida de pirarucu salgado, que estava
preparando, e não queria fazer duas viagens para aquelas bandas. Quando fosse levar o pirarucu, levaria o branco. E assim obrigou o Macário a esperar cerca dum mês com intensas saudades(...)".(1)
A narrativa em questão faz parte do livro O Missionário, do autor Herculano Marcos Inglês de Sousa, paraense nascido em Óbidos, em 1853. Inglês de Sousa é considerado por alguns autores como o introdutor do naturalismo na literatura brasileira. Guilherme era pescador/salgador de pirarucu e apesar do livro ser fictício, Inglês de Sousa retrata práticas reais de sustento através da salga do pirarucu por toda a Amazônia, especialmente, no Amazonas, no século XIX. A atividade da pesca e beneficiamento do pirarucu era muito importante economicamente para a região. [Quem quiser saber mais volte atrás nos textos] Nesse sentido, José Veríssimo nos esclarece que: "(...) todos os motivos de ordem econômica, a pesca do pirarucú occupa nas pescarias amazônicas o primeiro lugar. A salga do pirarucú , como a recolha da castanha ou a extracção da borracha, determina uma época na região «o tempo da salga» , setembro e outubro, e dá principalmente lugar aos grandes ajuntamentos periódicos no precedente capitulo esboçados. Outras pescarias fazem-se, digamos assim, á sombra desta, como appendices della, ao mesmo tempo e nos mesmos lugares em que ella é feita, já também descriptos". (2) Hoje compartilho a fotografia histórica, do movimentado mercado de peixe, em Manaus, em março de 1968. Observem as inúmeras postas de pirarucu para a venda no balcão e o grande movimento no mercado. Eu consigo até "ouvir" o burburinho...
.
.
.
📚✍️🏽Referências.
🛎O conteúdo deste blog está protegido pela lei n° 9.610 datada de 19-02-1998. Ao de utilizá-los, não se esqueça de dar os créditos.
📸 Autor: Jablonsky, Tibor; Valverde, Orlando, 1917-2006.Título: Aspecto interno do mercado de peixe vendo-se postas de pirarucu em Manaus (AM). Local: Manaus
Ano: mar. 1968. In: http://biblioteca.ibge.gov.br
(1)SOUZA, Inglês de. O Missionário. 3ªEd. São Paulo: Ática,1992. p, 93; 19-20. Texto proveniente de:A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais.Texto-base digitalizado por:
Luciana Ávila Duarte. p, 89/155.
(2)José Veríssimo, A pesca na Amazônia. Universidade Federal do Pará, 1970. p, 28.
Comments