top of page
Foto do escritordaquiloquesecome

Antes de ser... já era...

A primeira ilustração do quadro "Literatura e Alimentação" deste ano está "saborosa" demais. Então, puxa uma cadeira, pega uma xícara de café ou chocolate e boa leitura. A história foi escrita por Lindolfo Mesquita (Zé Vicente), em seu livro, "Histórias do meu subúrbio chronicas humorísticas, publicado em Belém, em 1941.(1) Lindolfo Mesquita foi um poeta popular paraense, cordelista, jornalista, político [foi prefeito da cidade de Vigia-PA], editor e poeta. A belíssima ilustração de hoje, feita pela Talita Almeida, está LINDA demais e faz uma "leitura" da história intitulada "Antes de ser...já era ". [Peço licença ao autor Lindolfo Mesquita] Pois, vou reproduzir literalmente partes da História contada por Zé Vicente. Então, vamos à história:


"A Alcídia do Rosário andava num pé e noutro, naquella villa  do interior do Estado, só porque ia casar com o Cyrillo Leite (...) Na villa era só o que se falava:


_Antão a sinhora já sabe, nhá Prudencia? A Ocídia disque vae  casá no sabbo com o Cyrillo.


_Já seiu, seu Lixandre. Nós inté já fumo cunvidado p'ra i tomá o chicolate.


No dia das núpcias as velhotas foram preparar a noiva (...) E equilibraram a grinalda na fronte da Alcídia do Rosário, passando-lhe  depois uma tintura de urucú nas faces. E as impressões eram as mais exaggeradas:


_Má cumparado,  inté parece uma santa (...) As quatro horas da tarde sahiu o noivado rumo da casa onde devia comparecer o supplente de Juiz da Comarca(...) A Alcídia do Rosário mais o Cyrillo Leite sentaram-se  junto à mesa, deante dos representantes da lei.


O supplente de supplente de Juiz perguntou: _Cuma é o nome da nubentia?


_Nome de quem?


_Nome da nubentia.


_Num  seiu, nhô não.


_Oh! Não sabe o seu nome?


Foi ali que a Alcídia,  pensando que como noiva já podia usar o nome do Cyrillo, respondeu:


_Arcidia Leite (...)


O supplente de Juiz da roça virou-se para o noivo:_Seu nome? _Cyrillo Leite.


O homem levantou-se, olhou para o livro em que o escrivão fazia o assentamento, procurou lêr o nome da noiva e exclamou: _Tá tudo muito má feito. A sinhora ainda num perdeu o Rosário. E ordenando:


_Seu iscrivão, faz favô,  tire o Leite da noiva.


O escrivão  ergueu-se afobado, rumo ao armário. _Aonde você vae?


O escrevinhador informou: Eu num posso rappá  a foia do livro cum a unha. Vou percurá uma borracha p'ra tirá o Leite della cum geito.


O noivo ahi gritou:


_Potresto! Num admitto! Nós num viemo fazê  inzame sanitaro!


Felizmente explicaram tudo, desfazendo a confusão do noivo". (2) E depois de tudo explicado eu acredito que os noivos e os convidados puderam tomar seu chocolate em paz :) e sobre o chocolate quente em casamento no Pará,  amanhã tem texto sobre isso, perde não.


.


.


.


📚✍️🏽 Referências.

🛎O conteúdo deste blog está protegido pela lei n° 9.610 datada de 19-02-1998. Ao de utilizá-los, não se esqueça de dar os créditos.

📸 Ilustração de "Antes de ser...já era". Por Talita Almeida. Janeiro, 2024. 

(1) (2) Lindolfo Mesquita (Zé Vicente) Histórias do meu subúrbio Chronicas humorísticas composto e Impresso nas oficinas. Graf. da Revista da Veterinária. Belém-Pará.  1941. p, 17/18.

6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page