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Arroz Negro no Pará.

E seguimos falando de arroz negro: primeiro porque é necessário, segundo porque o texto já estava na vez e terceiro porque eu tenho uma indicação de leitura, daquelas imperdível sobre o assunto...



Pois bem, Judith Ann Carney, professora da Universidade da Califórnia e Rosa Acevedo Marin, professora da UFPA, tem um texto intitulado "Saberes agrícolas dos escravos africanos no novo mundo", publicado na Revista Ciência Hoje, de junho de 2004, que é muito importante para aqueles que estudam a temática do arroz e da alimentação.

As autoras trazem reflexões importantes para pensarmos a importância dos africanos nas Américas. E que não seja entendido apenas pelo viés de mão-de-obra escravizada. Um primeiro ponto que destaco apresentado pelas autoras é: que os saberes em torno do arroz africano é parte importante de uma História da Agricultura. E que está, deve ser vista "como um produto da cultura de sociedades em ambientes específicos, tanto quanto as relações sociais e de poder". (1) Estudar agricultura é também estudar botânica, meio ambiente e territórios. Um mundo de possibilidades, não!? Um segundo ponto faz referência a chegada do arroz nas Américas e nesse ponto as autores nos permitem analisar várias memórias, inclusive, de mulheres em comunidades quilombolas tanto no Pará quanto no Maranhão. Assim, elas nos dizem que: "No Pará, na comunidade de Itancoã (municipio de Acará, perto de Belém), uma mulher de 87 anos, D. Luzia Antônia de Deus (...) conta sobre "a chegada do arroz nos cabelos e mostra como era feito o plantio" a mesma memória é encontrada em quilombos do Maranhão. Na grande maioria dos relatos que são ditos em comunidades quilombolas de diferentes estados existe uma fala semelhante. Segundo as autoras: "frisamos que os escravos começaram o cultivo no Brasil: ao fugir para os quilombos, eles levaram consigo os grãos para plantá-los".(2)

O arroz africano é um alimento que: "Era base de alimentação das comunidades de escravos aquilombados no século 18". (3)

Um terceiro ponto é justamente que devemos olhar pra essa história tendo como ponto de partida a percepçãode que: "O arroz é uma herança deixada a todos nós pelos africanos e seus descendentes (...) apesar das condições inimagináveis que lhes foram impostas na escravidão". Assim, deve ser visto como uma "resistência dessa cultura no Novo Mundo".(4) Todas essas questões trazidas pelas autoras nos permitem pensar sobre como "o cultivo do arroz, por exemplo, estava associada a um complexo conhecimento do manejo da água, do sistema de pilagem, do cozimento e da preparação de pratos (com feijão e outros ingredientes africanos).(5) Então, africanos são os principais responsáveis nas Américas pela implantação dos saberes em torno do arroz Oryza glaberrima. O texto de duas dos maiores estudiosas sobre o assunto é um ponto de partida e reflexão para pensar a manutenção de práticas alimentares pelos africanos em meio ao mundo terrível da escravidão. Percebê-los com protagonismo de técnicas e práticas que por muito tempo lhe foi negado. Leiam o texto...

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✍🏽📚 Referências.

📸Título: Mulher pilando arroz em Boa Vista do Gurupi (MA)

ID: 9912; Autor: Dias, Catharina Vergolino, Mazzola, Rubens Moreno; Valverde, Orlando. Série: Acervo dos trabalhos geográficos de campo.

Arroz; Boa Vista do Gurupi (MA); Brasil, Nordeste; Maranhão In:https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=49912 acessado em 3 de julho de 2021.

(1) (2)(3)(4)(5)Judith Ann Carney; Rosa Acevedo Marin."Saberes agrícolas dos escravos africanos no novo mundo"; Revista Ciência Hoje, de junho de 2004. p. 28; 29;30; 33.








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