O texto de hoje é sobre as viuvinhas, doce de origem portuguesa que tomou conta do Brasil, no século XIX. O texto nasceu a partir de um diálogo muito produtivo com o João Pedro, lá do RJ.
As fotografias são dele, ( e deixo registrado aqui meu agradecimento por autorizar à divulgação das viuvinhas que ele fez). João Pedro testa várias receitas históricas que encontra, e é também um estudioso da temática. ( Já disse que ele deve escrever um livro sobre!!!) As viuvinhas são feitas em massa bem fina, aquelas massas de hóstia e se parecem com os pastéis de Santa Clara. Ele fez uma receita de um livro antigo do ano de 1920, um "doce de coco em folha de hóstia". A massa é muito fina mesmo, ele conta que fez contou com a ajuda da sua mãe para que a massa ficasse bem fininha. Do tamanho ideal. As viuvinhas ou viúvas tem origem na doçaria portuguesa, o historiador João Pedro Ferro, nos conta que haviam viúvas em Braga no convento dos Remédios e no Mostreiro do Bustelo. (1)
Eram portanto, doces conventuais. Nesse sentido, Dina Fernanda nos fala que: "A maioria dos doces conventuais resultava de uma aprimorada confecção, onde o açúcar, os ovos, o mel e a amêndoa raramente faltavam, apenas variando a quantidade e a forma de os confeccionar".(2) E ainda, "No que diz respeito à venda de doces (...) A venda pública contribuía não só para configurar as especialidades de cada casa monástica, como também para equilibrar o orçamento". (3)
No Brasil, o doce ganha o gosto no século XIX, sendo oferecido em vários estabelecimentos comerciais e mesmo sendo vendido por encomenda, ganha também verões com outros tipos de recheios. Em Belém, por exemplo, na década de 1930, temos o Café 15 de Agosto, situado na avenida de mesmo nome. Era uma casa especializada em “café, leite, coalhada, chocolate, viúvas, queijos e sorvetes diversos”. Mas, também dispunha de bebidas finas, nacionais e estrangeiras, de cigarros e charutos de todas as marcas e de sua “especial salada de frutas”.(4) As viúvas eram pastéis, geralmente vendidos ao lado de pastéis de Santa Clara e de outras qualidades de pastéis. (5) No Rio de Janeiro, o consumo dos doces portugueses ganhou os paladares especialmente com a presença da corte portuguesa. BRUIT e El-Kareh, nos falam que tal realidade é possível de ser vista pelo "O elevado número de botequins e casas de pasto (nome atribuído aos
restaurantes, em geral mais simples) e de anúncios de vendas de salgadinhos, pe-
tiscos os mais variados, nos leva a crer que o hábito de seu consumo estava pro-
fundamente ancorado no quotidiano carioca".(6) Desta forma, "A casa de pasto "O Gambá do Saco do Alferes",
estabelecida na região portuária da cidade, oferecia "todos os dias e a toda hora muita variedade de comida, tanto de peixe como de carne, feita com o maior
asseio e prontidão; o bom café simples ou com leite, e doces em calda e de massa".
Era possível, também, provar-se dos "pastéis de Santa Clara, viúvas e outras
muitas qualidades de pastéis"(7)
João Pedro, @mestrejonas também encontrou a receita em outro livro de receitas, de Pelotas, do início do século XX (a última imagem é do livro), com a receita da Dona Mariquinhas de Vizeu, que havia falecido em 1907.
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💬 E você? Já fez ou provou as viuvinhas? Me conta.
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📚✍🏽 Referências.
📸 As fotos e informações sobre elas foram gentilmente cedidas por @mestrejonas. A quem agradeço a autorização para este post.
(1) Ferro, João Pedro. Arqueologia dos hábitos alimentares. Publicação Dom Quixote, Lisboa, 1996. p. 70
(2)(3) Dina Fernada Ferreira de Sousa. A doçaria conventual de Coimbra. Colares Editora. p. 68-70.
(4) (5) (6)(7)BRUIT, Héctor Hermán; EL-KAREH, Almir Chaiban. Cozinhar e comer, em casa e na rua: culinária e gastronomia na Corte do Império do Brasil. In: Estudos Históricos, n. 33, 2004, p, p. 11.
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