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Café com pupunha.

Se hoje é um hábito alimentar no extremo Norte do Brasil, o café com a pupunha, devemos isso aos povos originários que foram os responsáveis pela domesticação e cultivo da palmeira de pupunha. Se os indígenas não tivessem realizado esse processo, não teríamos a pupunha como um dos alimentos tão importante ao longo do nosso território.

Desta forma, trago hoje um dos relatos mais completos sobre a pupunha, que foi escrito por Spix e Martius, no ano de 1817, quando de sua viagem de expedição Científica ao extremo Norte do Brasil. Os viajantes vieram ao Brasil junto com a comitiva oficial que acompanhou Maria Leopoldina da Áustria. Mas, já aqui no Brasil, partiram em viagem científica com objetivo de "coletar" espécimes de fauna e flora. Nesse trabalho, percorreram Rio de Janeiro, São Paulo, Ouro Preto e Diamantina, Salvador e por fim, na parte do extremo Norte do Brasil, a Capitania do Grão-Pará é Manaus. Levaram para Munique um acervo muito grande de espécimes zoológicos. Em sua narrativa é possível perceber a importância dos povos originários no processo de domesticação da palmeira de pupunha. Alguns pontos do relato nos mostram que em primeiro lugar a domesticação da palmeira de pupunha começou "muito tempo atrás" já que algumas variedades, encontradas por eles, nao tinham mais sementes e tal realidade acontece durante o processo de domesticação [eles usam a comparação com banana para mostrar a antiguidade do processo de domesticação]. Assim, quando passavam "(...)ao longo da margem setentrional da ilha Paricatiba (...) Foi aqui que, pela primeira vez encontramos na cerrada vegetação da margem, a palmeira pupunha (Guilielma speciosa Mart.) Entre todas as palmeiras brasileiras, a que mais alimento fornece, e, portanto, maior importância tem para a economia dos indígenas, ao ponto de ser cultivada por eles, esta merece ser detalhadamente(...)".(1) Nesse sentido, ele aponta que: "Entre estas, estão em primeiro lugar as plantas cultivadas, desde tempos imemoriais (...) o milho (Zea mais), [banana ](Musa paradisiaca), o aipim (Manihot aipi Pohl.), a mandioca (M. utilissima Pohl.), o pimentão (Capsicum anuum) e a palmeira pupunha (Guilielma speciosa), que inspiram esta observação. Todas estas plantas trazem em si o cunho de longo cultivo, pois, ou já existem em muitas variedades, ou os seus frutos foram pouco a pouco perdendo as sementes". (2) Ou seja, sem esse processo longo de domesticação não haveriam as variedades de pupunha que conhecemos até hoje. Os viajantes apontam ainda que a pupunha era um alimento muito importante já que era bastante consumido pelos povos originários. Portanto, optei pela transcrição na íntegra do relato para dar "voz" as observações dos autores tal como foram feitas: "Esta palmeira é cultivada por muitas tribos junto de suas casas. O seu crescimento é mais rápido do que o de muitas outras palmeiras, pois às vezes aos quinze anos já frutificaria; de todo modo, o seu cultivo pressupõe uma certa estabilidade de domicílio; esse cultivo, entretanto, é estranho aos muras, turás e outros índios de corso, que mudam frequentemente as suas malocas. Encontramo-la mais frequentemente entre os passés, juris, coerumas e uainumás, no Japurá e na ilha Tupinambarana, antes habitada pelos tupinambás, e em mais outras ilhas a oeste delas, no Amazonas, entre os rios Madeira e Juruá, que, segundo a relação de Acuña, foram outrora habitadas pelas numerosas e industriosas tribos dos curuzicaris, iorimãs e cochiuuarás. Esta

palmeira tem de comum com as demais plantas, primitivamente cultivadas, uma

área de propagação relativamente muito vasta (...)O fruto da pupunha, uma drupa, é oval, do tamanho de uma pera mediana. Abaixo da epiderme, amarela ou vermelha, está a polpa esbranquiçada, farinácea, ado-

cicada, atravessada de fibras, comparável no sabor a muitas espécies de batatas doces. Os índios preferem este fruto, cozido ou assado, à maioria dos outros.

O mingau, feito de pupunhas e bananas misturadas, é o seu petisco predileto". (3)

Para nós, a pupunha, é uma importante herança indígena. E devemos nos lembrar disso, sempre!


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💬 To be continued...


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📚✍️🏽Referências.

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📸 Acervo Pessoal da Autora.

(1)(2)(3)Spix, F., Johann Baptist von, 1781-1826.Viagem pelo Brasil (1817-1820) / Spix e Martius. ; tradução de Lúcia

Furquim Lahmeyer -- Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2017.p, 147; 154, 155, 156.

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