Você sabia que nem sempre a romaria do Círio de Nazaré ocorreu no 2° domingo de Outubro? E que o Pato no Tucupi era/é até hoje um prato tradicional do almoço do Círio? Não? Então, vem comigo...
Nos idos de 1839, o pastor metodista Daniel Kidder, quando esteve no Pará, nos informa sobre a festividade do Círio de Nazaré que: "A maior festividade religiosa que se celebra no Pará é a de Nossa Senhora de Nazaré. É uma festa móvel que pode cair em Setembro ou Outubro e é geralmente marcada de maneira a começar com a lua nova, na esperança que se sigam nove ou dez noites bonitas consecutivas". (1)
A devoção tem relações com Portugal, por lá, o Círio de Nazaré acontece em 8 de setembro na cidade de nome da Santa. Aqui no Pará, a devoção está atrelada ao achado da imagem pelo caboclo Plácido. Inicialmente, o Círio de Nazaré poderia cair em Setembro. Somente em 1901 foi definido o segundo domingo de outubro como data oficial da romaria. Pois bem, após a romaria tornou-se tradição o "Almoço do Círio ", aliás, a preparação para o Almoço do Círio começa/va bem antes a data, com a preparação da maniçoba, ao menos 7 dias antes da procissão, ou mesmo um ano antes com a criação pelos quintais dos patos, que deveriam ficar bem “gordos” para serem servidos no tucupi, no tradicional almoço. As memórias de Alfredo Oliveira revelam muito dos costumes de grande parte das famílias paraense nesse momento:"Depois da romaria, o almoço do Círio tornava-se uma reunião familiar (…) no casarão de minha avó Lídia, na avenida Alcindo Cacela, o pato no tucupi e a maniçoba estavam à espera dos netos, assim como as deliciosas sobremesas de bacuri e cupuaçu. Vinham todos. Não dava para perder a comilança. Tios e primos lambiam os beiços, fartavam-se alegremente. Os adultos bebiam vinho tinto. A pirralhada caía no estoque de guaraná Soberano". (2) Em 1932, o bar É Aqui o Amadeu também estaria servindo deliciosos pratos durante a quadra nazarena. Segundo seu proprietário: "Este conhecido Bar que todos os anos funciona no arraial de Nazareth, este ano está mais bem apparelhado para atender à sua amável freguezia com bons quitutes, como sejam: paca no tucupy, pato no tucupy, perú assado à brasileira, filét à bar Amadeu, casquinhos diversos e o bom assahy gelado. Bebidas de todas as qualidades como schopp bem geladinho (sic) (3) Enfim, como já dizia o anúncio do Souza Bar, no dia propriamente dito da procissão do Círio, no domingo de manhã, haviam preparado “um serviço a capricho” para o almoço. Assim, anunciavam
com bom humor que se “a cozinheira foi para o Círio não se aborreça; vá ao SOUZA-BAR e faça suas refeições”(4).
Ou seja, o almoço do Círio não se fazia somente em casa, mas também nos restaurantes. E seja nas casas ou nos restaurantes o Pato no Tucupi não podia faltar.
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💬 E não pode até hoje...
P.S- Se você quer saber um pouco mais sobre o consumo do Pato no Tucupi, dê uma olhada na minha tese onde discuto historicamente sobre este prato. Vou colocar o link nos stories.
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📚✍🏽 Referências.
📸 Pato no Tucupi. Leandro Tocantins. Santa Maria de Belém do Grão-Pará instantes e evocações da cidade. 3 ed. Editora Itatiaia Limitada. Belo Horizonte. 1987. (1) KIDDER, Daniel Parish. Reminiscências de viagens e permanências no Brasil. São Paulo: Martins, Ed. da Universidade de São Paulo, 1972. p. 185-186. (2) OLIVEIRA, Alfredo Carlos Cunha de. Conflitos e sonhos de um aprendiz: memórias. Belém: [s.n.t.], 2015. P. 184. (3) 11 Folha do Norte, 8 de outubro de 1932, p. 4. (4) 12 Folha do Norte, 8 de outubro de 1932, p. 4.
📌 Para saber mais: Macêdo, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da alimentação em Belém. (Fins do século XIX e início do século XX). PPGHIST. UFPA, 2016.
http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/8849
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