O Círio é momento único de confraternização entre as pessoas que perpassa os hábitos alimentares. Daí que existe o que os paraenses denominam de “almoço do Círio”, parte importante
da festa de Nossa Senhora de Nazaré.
No dizer de Tocantins “há o ‘almoço do Círio’, comemoração da qual participam os parentes, os amigos [bem como os amigos dos parentes e amigos dos amigos]. Repastos soberbos em quitutes e bebidas regionais”. Havendo, ainda, “os almoços de pagamento de promessas, mesa onde se reúnem dois, três desconhecidos, rigorosamente pobres” (1)
Na festividade religiosa do Círio de Nazaré, espaço de festas gastronômicas, em especial o arraial de Nossa Senhora de Nazaré, sempre haviam quitutes para serem degustados. O arraial em frente
a Basílica era formado no dizer de Tocantins por “Centenas de barracas armadas no Largo, cheias de
objetos, de comidas e bebidas. Carrosséis românticos, roda gigante, aeroplano. Brincadeiras de crianças e de gente grande também. Luzes em profusão, algazarra, estouro de foguetes, sinos batendo”. (2) Um arraial “bem brasileiro, que cheira a bafos de gente, a temperos de comida, que exala esquisitas fragrâncias de ervas, que escorre mistérios de cada barraca
e das multidões transfundidas no ritmo morno dos corpos” (3) Desde pelo menos o século XIX, a relação do círio com as comidas era importante e constante. (4) Nesse sentido, o arraial de Nazareth se estendia por todo o "quadrilátero do entorno da Basílica".
Na belíssima fotografia, intitulada "Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazareth", datada de 1953, temos a imagem das barracas de comidas na esquina da 14 de Março, um local mais "distante" do arraial em si, mas, que podemos observar que era um espaço de venda de comidas do Círio. Provavelmente, as quituteiras vendiam tacacá, maniçoba, vatapá, doces diversos e outros pratos típicos dessa época. E possível ver as cuias, as panelas com as comidas e a movimentação das pessoas. A dinâmica real de outros tempos do Círio de Nazaré.
Ao que tudo indica este local era mais popular, e talvez pretendesse, nesse tempo de festa, oferecer a um público com menor poder aquisitivo um cardápio que nem sempre era possível ser consumido pela maioria da população nos restaurantes e mesmo na barraca da Santa cujo valor dos pratos era mais elevado.
Realidade que permitia romper com os papéis quotidianos e que a partir da alimentação criava o que Corbin denomina de:"(…) codificação destes usos, aos sinais de distinção, de promoção ou de simples distracção que os ordena (…), no que rege as maneiras de ser, simultaneamente espectadores objetos de espetáculo, no jogo complexo da representação social que constitui o divertimento coletivo" .
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📚✍🏽 Referências.
📸ID: 15746
Código de Localidade: 220675
Título: Festa do Círio de Nossa Senhora de Narareth (PA);Local: [Belém]; Ano: 1953
Descrição física: original.p&b.bom estado de conservação: Série: Acervo dos trabalhos geográficos de campo.; Entidades: Esso Standard do Brasil
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=415746
(1) (2)(3)TOCANTINS, Leandro. Santa Maria de Belém do Grão Pará instantes e evocações da cidade. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1987. p. 279; 286; 287.
(4) Sidiana da Consolação Ferreira de Macêdo e José Maia Bezerra Neto. A festa de Nossa Senhora de Nazaré: entre a fé
e as comidas/ The feast of Blessed Virgin of Nazareth: between faith and food
REIS | v. 3 | n. 2 | jul.-dez. 2019 | p. 23 - 35 | Rio Grande- Revista Eletrônica Interações Sociais – REIS -Revista de Ciências Sociais / ISSN 2594-7664
(5) CORBIN, Alain. História dos Tempos Livres. O advento do lazer. Lisboa, Portugal: Editora Teorema, 2001.
KIDDER, Daniel Parish. Reminiscências de viagens e permanências no Brasil. São Paulo: Martins, Ed. da Universidade de São Paulo, 1972. p. 203.
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