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Dia de finados e o mundo da alimentação

Hoje no Brasil é feriado de Finados.

O dia de finados, data segundo Luiz da Câmara Cascudo do século X, no Brasil acontece um dia depois da comemoração da Festa de todos os santos [Festum omnium sanctorum] . A festa de todos os santos é uma realização que ocorre para comemorar os Santos e Mártires cristãos.


Já o dia de finados [Omnium Fidelium Defunctorum] "mantém tradição imemorial em todos os cultos religiosos".(1)

Mas, você sabia que em muitas culturas existe uma relação importante entre a morte e a alimentação. Nesse sentido, "as refeições fúnebres tinham cerimonial impressionante pela compostura e silêncio dos componentes". (2) Segundo Juliana Resende Bonomo, em seu trabalho: "Alimentando o luto: as memórias e as transformações das comidas de velório em Minas Gerais, na segunda metade do século XX: "A comensalidade nos velórios, ou seja, o que as pessoas comem, como comem e porque o fazem, também está relacionada a questões históricas, culturais, religiosas, econômicas e psicológicas".(3) Para a autora, a relação entre comida e velório está associada, no caso do Brasil,  as influências africanas e portuguesas. Portanto, "Sobre a relação da comida com os velórios da segunda metade do século XX, segundo os meus narradores, o ato de comer e dividir a comida com os outros não tinham uma conotação religiosa, como no caso dos ritos africanos. Parece-me que a refeição fúnebre no interior mineiro se aproximava mais da hospitalidade e do convívio social típicas do povo português, sempre regados à comidas e bebidas. Desse modo, a oferta de comida transcendia à simples intenção de sustentar aos partícipes, demonstrando a sua dimensão cultural, na medida em que representava uma forma de “receber bem”, um atributo de grande importância na cultura mineira".(4) E ainda, "Nos relatos abaixo, é possível apreender de que forma eram preparadas e servidas essas

comidas:

“Os velórios antigamente eram feitos em casa e duravam a noite inteira. O povo ficava lá, tomando café, biscoito, até pinga. Os biscoitos eram feitos em casa, pois não tinha padaria na cidade. Era servido o que tínhamos em casa. As comidas servidas eram coisas simples, como café, pão, Toddy. Enquanto isso, as pessoas iam rezando um terço atrás do outro, a madrugada inteira. E ainda tinha o grupo de mulheres, as carpideiras, que eram pagas para chorar (risos)". (5)

Aliás,  sobre a morte no Brasil, eu sugiro o livro do historiador João José Reis, A morte é uma festa. Ritos fúnebres e Revolta popular no Brasil Séc XIX, um dos trabalhos mais importantes sobre os rituais e mentalidade de época sobre a morte. Importante dizer que as refeições fúnebres ganham ao longo do tempo e das diversas culturas variadas simbologias e leituras. E assim, como nos esclarece Georg Simmel: "O incomensurável significado sociológico da refeição está contido na possibilidade de pessoas que não partilham interesses específicos se encontrarem para uma refeição em comum"(6) Possibilidade essa que pode ser efetivada até mesmo na hora da morte. Na aquarela de Debret, temos um" Enterro de uma negra católica chegando à Igreja da Lampadosa", na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1826.




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📚✍️🏽Referências.

📸 Enterro de uma negra católica chegando à Igreja de Lampadosa. Aquarela sobre papel: J. B. Debret, Rio de Janeiro. 1826. In: Debret e o Brasil Obra Completa 1816-1831. Julio Bandeira e Pedro Corrêa do Lago. Nova edição revisada e ampliada. Editora Capivara, 2013. P. 200. 🔖Qualquer óbice em relação a imagem por favor nos avisar.

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Ao utilizá-los, não se esqueça de dar os créditos.

✍️🏽Para saber mais: João José Reis. A morte é uma festa. Ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. Companhia das Letras, 1991.

(1)(2) Cascudo, Luís da. Dicionário do folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2012. p, 300.

(3)(4)(5) Juliana Resende Bonomo, Alimentando o luto: as memórias e as transformações das comidas de velório em Minas Gerais. XXIX Simpósio Nacional de Historia. 2008. p, 1;9.

(6) SIMMEL, Georg. Sociologia da refeição. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 33, 2004. p, 160.

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