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Maniçoba.

A maniçoba, prato típico paraense muito consumido no Círio, em festas de arraiais, em casamentos, batizados, aniversários e várias das festas familiares em Belém se tornou patrimônio cultural de natureza imaterial pela Lei nº 9.601/2022, a regulamentação foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Pará no mês de maio.




E sancionada pelo governador do Estado do Pará, em 2 de junho de 2022.Você sabia que para um prato se torna patrimônio cultural de natureza imaterial tem que ser levado em consideração a historicidade desse prato? E que o historiador da alimentação tem papel importante nesse inventário? Desde 2009, eu estudo a maniçoba e o pato no tucupi.( O pato no tucupi também virou patrimônio cultural de natureza imaterial, aliás, o texto de amanhã será sobre ele). Mas, você sabe o que é a Maniçoba? Em minha tese eu abordo a historicidade deste prato que é ancestral e que é um dos alimentos indispensáveis no Almoço do Círio.(1) Então, vamos conhecer um pouquinho mais sobre a Maniçoba.



A maniçoba já era consumida desde o século XVI, como informa Gabriel Soares de Sousa, afirmando que os indígenas comiam a “folha (…) cozida em tempo de necessidade, com pimenta da terra”. (2) Em relação a esse consumo, Ambrósio Brandão aponta que os indígenas chamavam “folhas de mandioca cozidas”, de “maniçoba”. Tais folhas segundo registrou eram “excelentes para tempo de fome”. Desse modo, era usada

por “muitas pessoas por mantimento”.(3)Apresentava já no século XVI, formas de consumo diferenciadas, pois ainda que elaborada com “Folhas de mandioca cozidas” podia ser misturada com peixe, às vezes com carnes (de caça) e somente temperado com sal ou pimenta. Depois, como comida mestiça passou a ter na sua composição o toucinho português e outros temperos, como alho, cheiro-verde, e muito refogado seria.(4) O refogado em grande medida foi "introduzido" pelos portugueses. A maniçoba mestiça não somente leva carnes variadas e vários tipos de embutidos como estes devem ser

refogados antes seguindo o padrão português de fazer guisados. Na forma tradicional dos grupos indígenas as carnes eram consumidas assadas e não refogadas. Importante aqui salientar que mesmo mestiça o prato tem na sua base, a folha da mandioca, domesticada por grupos indígenas. Então, isso faz dela um prato de resistência e permanência da cultura alimentar de diversos grupos indígenas. É importante também dizer que a maniçoba como comida do Círio permite uma leitura das práticas alimentares do Círio de Nazaré como um código de lazer e pertencimento importante na construção de um ethos social. Práticas alimentares que persistem. (5) Nesse sentido, a maniçoba perfumava todo o arraial, como nos diz Leandro Tocantins: "Caboclas que não param no lava-lava das cuias, no amassar pimenta-de-cheiro para o molho do tucupi, no mexer a panela da goma do Tacacá, no servir uma tigela de açaí, um prato de maniçoba ou um de pato-no-tucupi, enquanto dão um tiquinho de prosa com o freguês". (6)

Maniçoba é prato de alma, de comer compartilhado e rodeado de gente. É prato de pertencimento e identidade regional. E agora por lei, patrimônio cultural de natureza imaterial do Pará.

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💬 to be continued...

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📚✍🏽 Referências.

🛎O conteúdo deste blog está protegido pela lei n° 9.610 datada de 19-02-1998. Ao utilizá-los, não se esqueça de dar os créditos.

📸 Maniçoba. Acervo da Autora.

(1)(4)Macêdo, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da alimentação em Belém. (Fins do século XIX e início do século XX). PPGHIST. UFPA, 2016.

http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/8849

(2) (3) BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das grandezas do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2010, p. 215.

(5) CORBIN, Alain. História dos Tempos Livres. O advento do lazer. Lisboa, Portugal: Editora Teorema, 2001.

(6) . Leandro Tocantins. Santa Maria de Belém do Grão-Pará instantes e evocações da cidade. 3 ed. Editora Itatiaia Limitada. Belo Horizonte. 1987. p. 288.

(7)MACÊDO, Sidiana da consolação Ferreira de; BEZERRA NETO, José Maia. A festa de Nossa Senhora de Nazaré: entre a fé e as comidas. Interações Sociais, v. 3, pp. 1-112, 2019.

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