Se Dalcídio é um dos meus literatos preferidos. Eneida de Moraes é a preferida e sempre indicada. Quando você termina de ler Eneida, o sentimento é de plenitude. Então, trago hoje as memórias de Eneida de Moraes para falar de São João, do mês junino e das festas que fazem parte da cidade morena, Santa Maria de Belém do Grão-Pará.
Eneida em Aruanda, nos conta que "São João é personagem de minha infância; de São João sou velha e dedicada amiga. Aprendi a amá-lo muito cedo(...) em minha terra, na longínqua e amada cidade de Santa Maria de Belém do Grão-Pará, há uma prática extremamente bela e perfumada, que se chama o banho de cheiro ou banho da felicidade". É assim, "nas vésperas de São João, a cidade amanhecia festiva, com correria de homens carregando à cabeça tabuleiros cheios das ervas da felicidade. Seus pregões embalavam as mangueiras que arborizavam as praças e ruas da Belém de meu tempo. ___ Cheiro cheiroso! (a pronúncia local: chêro chêiroso)". Eneida lembra que: "Tínhamos o direito de, naquela noite - rara noite - dormir mais tarde, porque no dia de São João nascera meu pai e, à meia noite, mesmo que ela estivesse coberta de cristais, no quintal corria, em cuias pretas o munguzá".(1) O munguzá é um prato da cozinha africana. A palavra Munguzá, por exemplo, vêm do Quimbundo Mukunza, que quer dizer milho cozido, é elaborado com Grão- de-milho, caldo açucarado e com leite de coco e canela. (2) Além do Munguzá, Eneida lembra das "castanhas pulando quentes do meio do fogo". Comidas de festa junina no Pará, uma festa que envolvia cheiro, sabores, balões, "(...) Ramos de jasmim e os Boi-Bumbá vindo a porta de nossa casa pedindo licença pra entrar. Quantas bandeirinhas de papel cor! Que mundo de lanternas japonesas!".(3) O mundo da alimentação junino no Pará é um dos mais bonitos deste Brasil.
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💬🎉🎉E você não se esqueça do seu banho de cheiro e da deliciosa cuia preta de munguzá!
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📚✍🏽 Referências.
📸 Danças. Leandro Tocantins. Santa Maria de Belém do Grão-Pará instantes e evocações da cidade. 3 ed. Editora Itatiaia Limitada. Belo Horizonte. 1987.
(1)(3) Eneida de Moraes. Aruanda Banho de Cheiro. Lendo o Pará, 1989, p. 68-77.
(2) Salles, Vicente. Vocabulário crioulo:contribuição do negro ao falar regional amazônico. Belém: IAP, 2003.
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