A cidade de Belém ao longo de sua história contou com muitos botequins espalhados pelas suas ruas. À primeira vista, quase sempre eram lugares associados ao consumo de bebidas, sendo espaços geralmente procurados com a finalidade de se beber algo, mas que também podiam ter comida.
Os botequins eram espaços plurais. Nesse sentido, esta seria uma realidade comum em outros lugares do Brasil. Algranti, analisando o Rio de Janeiro para primeira metade do século XIX, enfatiza que os botequins eram locais onde “tradicionalmente ocorria à venda de
bebidas alcoólicas, podendo ou não haver também comércio de comida”.(1) Em Belém, entretanto, se muitos botequins serviam vinho, cachaça e pedaços de peixe salgado, talvez sendo menos comum a venda e consumo da carne seca,
entre outros produtos, havia também algumas tabernas e “botequins baratos das ruas João Alfredo e adjacentes” que vendiam açaí, conforme relato dos viajantes Godinho e Lindenberg.(2) Da mesma forma, ainda nos primeiros anos do século XX, o viajante Paul Walle informa-nos que somente encontrou o açaí em “pequenos botequins do bairro
comercial, que se identificavam, na fachada, por um pedaço de morim vermelho”.(3) Sobre o consumo de açaí dentro dos botequins, ainda que continuassem a sua venda em quitandas ou barracas identificadas com bandeirolas vermelhas, pode se dizer que sua importância como parte da dieta alimentar cotidiana de parte da população
paraense, seja no almoço ou no jantar, ou em ambas refeições, explica porque em alguns botequins se serviam o açaí, o peixe seco, a cachaça e quem sabe o próprio vinho de açaí. (4) Por meio da documentação pesquisada, em finais do século XIX e primeiras décadas do século XX, evidencia-se que em Belém existiam muitos botequins, às vezes associados a venda de bebidas tidas por "espirituosas", as bebidas alcoólicas, em que os fregueses consumiam produtos como “cerveja”, licores, cognacs e cachaça, por exemplo. Bem como, situavam-se em lugares diversos tais como a Travessa de São Matheus,(5) ou a Rua da Industria,(6) entre outros.(7) Tais ambientes frequentados quase sempre por trabalhadores. "Ou seja, os botequins permanecem com seu caráter variado, nos quais, além de encontramos as bebidas espirituosas, eram possíveis encontrar o açaí, café, chocolate e beber uma garapa. Nem todos os botequins, portanto, eram iguais".(8)
Exemplo dessa realidade é o Botequim "Patarata", cujo anúncio foi publicado no jornal Estado do Pará, de 17 de janeiro de 1916, localizado na rua Dr. Assis, n. 27 e de propriedade de J. P. Pinho, "Este importante e bem montado estabelecimento, offerece à sua distincta freguesia um importante é variado sortimento de artigos de superior qualidade, o que há de melhor no genero, e a preços muito reduzidos, como sejam: Café de superior qualidade, chocolate, leite fresco, dôces, sandwiches, cerveja especial PILSEN, Cognacs, Vermouths, licôres,Charutos e variadas marcas de cigarros".(9) Os Botequins são parte importante dos 406 anos da cidade de Belém.
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📚✍🏽 Referências.
(1)ALGRANTI, Leila Mezan. Tabernas e Botequins. Cotidiano e sociabilidades no Rio de Janeiro (1808-1821). Acervo, v. 24, n. 2, julho/dezembro 2011, p. 30
(2)GODINHO, Victor; LINDENBERG, Adolpho. Norte do Brasil: através do Amazonas, do Pará e do Maranhão. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2011, p. 3
(3)Walle, Paul. No Brasil, do Rio São Francisco ao Amazonas. Brasília: Senado Federal; Conselho Editorial, 2006, p. 311.
(4) GODINHO, op. cit., p. 106.
(5) O Pará, 5 de janeiro de 1898, p. 2.
(6)Folha do Norte, 21 de fevereiro de 1910, p. 3 (7)(8) Macêdo, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da alimentação em Belém. (Fins do século XIX e início do século XX). PPGHIST. UFPA, 2016. p. 38.
http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/8849 (9) Jornal Estado do Pará, 17 de janeiro de 1916.
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