Falar de pesos e medidas e de Metrologia é falar também de uma história econômica e dentro dela de uma história da alimentação. Impossível não fazer essa relação.
A história da alimentação permite muitos diálogos, os quais, permeiam toda a história da humanidade. Fernand Braudel, ao citar Proudhon nos lembra que: "Proudhon (...) afirma que trabalhar e comer são a única finalidade aparente dos homem. Mas entre esse dois universos se insinua um terceiro, estreito mas vivaz como um rio, também reconhecível a primeira vista: a troca ou, se preferir, a economia de mercado". (1) E nesse aspecto, reside a importância da balança, dos pesos e medidas. Especialmente, a medida que este comércio se desenvolve, a Metrologia torna-se crucial ao seu crescimento. Ariovaldo Franco nos fala sobre as feiras medievais que: "As grandes feiras, geralmente organizadas por ocasião de festas religiosas, constituíam lado ameno da vida na Idade Média e manifestação da economia internacional nascente. Nelas, caravanas de mercadores, camponeses, jograis e menestréis se reuniam periodicamente para exibir e vender seus produtos - fossem histórias, canções, carnes salgadas, especiarias ou seda. Algumas feiras podiam durar várias semanas". (2) No Renascimento, além das feiras, a economia oriunda das grandes navegações inaugura novos usos da Metrologia. Pesar, quantificar e saber o peso exato tornar-se a parte mais importante do comércio e do lucro. Inclusive, haviam balanças públicas, como não lembrar da Feira do Toucinho, citada por Braudel, em 5 de abril de 1719, localizada "no adro do Notre- Dame, durante a Semana Santa, é a Feira do Toucinho, na realidade uma grande feira onde os pobres e os menos pobres de Paris vão comprar suas provisões de presunto e tiras de Toucinho. A balança do peso público é instalada bem embaixo do pórtico da catedral. E é um empurra -empurra incrível, para ver quem pesa as compras antes que as do vizinho (...)". (3)
Saber a pesagem exata também era importante para garantir o lucro, na imagem um mercador pesando açúcar, no centro da imagem e ocupando lugar de destaque temos a balança. E aqui vale dizer que, a pesagem deveria ser certeira pois estamos falando de um produto que no século XIV era extremamente caro: o Açúcar. Sendo artigo de luxo e de status social. Notem como o mercador está concentrado na pesagem, para um produto tão caro, cada grama fazia diferença.
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📚✍🏽 Referências.
📸 Um mercador pesando açúcar. Tacuinum sanitatis. Século XIV.
(1) Cf. Braudel, Fernand. Braudel, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo séculos XV-XVIII. Os jogos das trocas. Tradução Telam Costa. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p, 11.
(2) Franco, Ariovaldo, De caçador a gourmet:uma história da gastronomia. 4 ed. Rev. São Paulo:Editora Senac São Paulo, 2006, p.68.
(3) Braudel, op. cit., p. 18.
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