Eu jamais poderia deixar de falar dos vendedores ambulantes de comida da cidade de Belém. Eles movimentaram todas as vias em torno do mundo da alimentação ao longo dos seus 406 anos.
Se fôssemos pintar a cidade, ela teria as cores que eles lhe deram.
Na fotografia publicada na Revista Paraense, do ano de 1909, temos os "Vendedores ambulantes de pão, garapa, sorvete, peixe frito etc, estacionados em frente ao Mercado de Ferro", onde a freguesia avança, na lei do caradurisno".(1) A descrição da imagem faz referência aos eternos conflitos entre os vendedores ambulantes versus poder público. Lei do Caradurismo, já que, por diversas vezes o poder público, através dos códigos de posturas elaboraram leis que não permitiam a "fixação" destes vendedores em determinados lugares da cidade."Os vencedores ambulantes ora vendiam alimentos prontos para consumo em um ponto fixo, havendo ainda relatos de vendedores ambulantes de comida que percorriam as ruas da cidade. Assim, o
que se come e onde se come permite o entendimento da cidade de Belém. Na cidade de Belém um dos lugares onde havia uma maior presença de pessoas
envolvidas no trabalho de mercancia ambulante era o populoso e movimentado bairro da Campina".(2) Neste, era possível encontrar carregadores, vendedores de comida e de frutas, por exemplo, uma vez que grande parte das lojas, tabernas, casas de aviação e outras lá se encontravam, embora os vendedores ambulantes muitas vezes não fossem vistos com bons olhos.
Segundo Cancela “Apinhados nas ruas estreitas dos bairros da Cidade Velha e da Campina” reclamava-se para que “carregadores e vendedores não atrapalhassem o passeio público dos cavalheiros”.(3) Sobre a presença de vendedores ambulantes no Boulevard da República, Márcia Nunes nos diz em sua tese intitulada "Rumo ao Boulevard da Republica: entre a cidade imperial e a metrópole republicana" (agora em livro) que: "O cotidiano do Boulevard da República no final do século XIX não era, entretanto, marcado unicamente pelas ações e transações de mercado, negócios e finanças que o caracterizaram por sua proximidade aos portos com suas grandes atividades de exportações e importações e às lojas e estabelecimentos comerciais que o margeavam. Um grande número de pequenos vendedores ambulantes, estivadores, catraieiros, carroceiros, carregadores e outras categorias de trabalhadores, compradores e passantes
provenientes de outros cantos da cidade, figuravam no cotidiano da avenida e davam a tônica da dinâmica do lugar transformando-o em cenário de constantes conflitos e tensões."(4)Mas, apesar de serem vistos pelo poder público como um grupo que deveria sempre estar sob sanções do Estado. A cidade de Belém e sua dinâmica não teria tido a movimentação (e aqui falando do mundo da alimentação), cor e dinâmica que teve sem esses sujeitos sociais. Os vendedores ambulantes de comida foram extremamente importantes para a formação de práticas alimentares que vemos até os dias de hoje. São parte muito importante da História da cidade.
.
.
.
📚✍🏽Referências .
📸 (1) Revista Paraense n°13. Ano de 1909.
(2) Macêdo, Sidiana da Consolação Ferreira de. A Cozinha Mestiça uma história da alimentação em Belém. (Fins do século XIX e início do século XX). PPGHIST. UFPA, 2016. p. 52-53-54.
http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/8849
(3) CANCELA, Cristina Donza. Uma cidade...muitas cidades: Belém na
economia da borracha. In: Conheça a Belém, co-memore o Pará. (orgs) Jane Felipe Beltrão, Antônio Otaviano Vieira Junior. Belém: EDUFPA, 2008, p. 82.
(4)NUNES, Marcia Cristina Ribeiro Gonçalves. Rumo ao Boulevard da Republica: entre a cidade imperial e a metrópole republicana. 2017. 419 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Belém, 2017. Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, p. 386. http://repositorio.ufpa.br:8080/jspui/handle/2011/8819
Comments